Os moradores do povoado Piranhas, localizado na zona rural de Traipu, teriam motivos de sobra para se orgulhar do lugar onde vivem. A comunidade é banhada pelo rio Traipu, que 16 quilômetros à frente se une ao rio São Francisco. O leito do rio, que seca durante o verão, revela formações rochosas que poderiam ser belas, não fosse pelo lixo. Os resíduos de toda a comunidade, somados aos restos de animais e vegetais podres oriundos da feira livre, transformam todo o entorno do povoado em um lixão. “A gente bem que podia se orgulhar do lugar onde mora, mas vivemos rodeados dessa imundície”, reclama a dona de casa Maria Verônica de Melo. Outro morador do povoado, o taxista Jurandir Alves de Oliveira, explica que o problema é antigo, mas nada foi feito para resolvêlo. “Alguns moradores jogam o lixo diretamente aqui, até porque o caminhão do lixo da prefeitura, que vem três vezes por semana aqui na comunidade, reúne todo o lixo e joga neste local”, declarou. “O rio, que deveria ser uma fonte de riqueza para nós, se tornou fonte de doenças”. Conforme o taxista, um levantamento feito na comunidade, em 2013, revelou que 1.800 famílias moram no povoado Piranhas, e ele estima que, de lá para cá, esse número pode estar próximo a duas mil famílias, a maioria formada por agricultores. “Nesse período que estamos, quando chove, parte do lixo vai parar dentro do rio. Tem dias que o mau cheiro é insuportável. Mas é quando o inverno começa de verdade que o problema fica bem maior. O rio começa a encher e toda essa área que está cheia de lixo fica embaixo d’água”, relatou Jurandir Oliveira. O taxista conta que, anos atrás, a comunidade, que não tem água encanada, utilizava a água do rio nos serviços domésticos. “As mulheres vinham lavar roupas nas pedras, e muita gente vivia da pesca. Aqui era um berçário de peixes, tinha ambambá, piau, pitu, mas agora não sobrou quase nenhum. Ainda tem morador que joga a tarrafa e às vezes consegue pegar um peixe pro almoço, e só”, declarou.